segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Por que alface é alface, mamãe?



Me apavora a maturidade precoce das crianças.
Hoje, na faixa dos sete, oito, nove anos há ainda um resquício de ingenuidade, mas que já se mistura com a malícia.
Na minha época (e já falo me sentindo ultrapassada) as crianças sabiam muito bem como as coisas funcionavam, que cegonhas e sementinhas eram contos da Carochinha, mas não se falava com tanta falta de pudor.
Não me julgo careta, mas sou a favor do tempo. Cada coisa ao seu tempo. E o tempo de brincar, de se descobrir, de perguntar... está se perdendo.
Fora a pressão para que os pequenos façam futebol, natação, inglês, mandarim, piano, flauta doce, aula de canto, teatro, ballet, informática, e inúmeros cursos, além de que passem no vestibular aos 10 anos.
Há anos atrás Lilica Ripilica era uma marca famosa e cara, que somente aparecia como presente, ou em datas especiais. Hoje é uma imposição nos jardins de infância.
Juro que não sou radical, mas meu filho não vai comemorar o aniversário de um ano dele no MacDonald’s. Vou permitir a ele que tenha cinco anos com cinco anos. Ele vai ter pai e mãe o corujando sem vergonha ou medo de que ele se transforme em algo que a sociedade não quer.
Ele vai pintar as paredes e quebrar coisas, e eu vou brigar com ele. Ele vai ficar de castigo algumas vezes, e vai doer mais em mim do que nele as palmadas que eu der. Mas quando ele perguntar “Por que alface é alface, mamãe?” eu vou ser a mulher mais feliz e paciente do mundo tentando explicar algo que não tem resposta.
Eu permitirei e incentivarei meu filho a fazer perguntas idiotas, que hoje as crianças têm medo de fazer, por parecerem ultrapassadas, mesmo que não tenham a mínima noção do que isso significa, nem do que é alface.

2 comentários:

Phillipe Lima disse...

Em parte, você ta certa. Mas não acho que seja mais adequado forçar infantilizações na criança, ninguém é sábio o suficiente pra definir que porção de conhecimento se deve dar a uma criança. A questão não é excesso de informação, porque isso é bom, e sim a utilização oportunista das vontades infantis (que, por sinal, os adultos também possuem). Não há que se confundir fazer mandarim e saber biologia com viciar a crinça em McDonald's. Volto a dizer: conhecimento nunca é demais.
"Conhecimento pode causar problemas, mas não é com a ignorância que vamos resolvê-los." Isaac Azimov.

Vanessa Pampolini disse...

Vejo que fui mal interpretada. Se não fosse assim, não discordaria.
Não estou falando em conhecimento e crescimento. Estou falando sobre precocidade que impede crianças de viverem seu momento mais lindo. Dando aula pra elas tenho notado isso. Tudo que é demais faz mal.
Meu filho não será um infantilóide. Será criança até quando for necessário, para que depois possa se tornar um homem, e não o contrário.