Passava pela rua despercebida, fumava seu cigarro barato, tomava uns porres de vez em quando pra amenizar alguma dor, pra esquecer, ou pra se divertir mesmo, pra dar umas risadas a mais, nada mais.
De vez em quando se aventurava numas novidades, mas sempre teve limites. Ou achava que os tinha. Fumava alguma coisa diferente do seu cigarro barato, bebia alguma coisa mais forte que aquelas coisas que a embriagavam nos botecos.
Saía pela rua não mais despercebida. Chamava muita atenção. Ria alto, tropeçava no ar, falava com alguém que não estava ali, falava mal sem conhecer, julgava e era julgada. Já era conhecida daquela rua, daquele beco, daqueles homens.
Seu juízo, ela perdeu. Sua honra, não lembra do tempo que a teve. Seus amigos, esqueceram, ou ela os mandou embora e nem sabe quando. Seu amor, agora só uma ilusão, só uma lembrança de um momento vivido num tempo que nem sabe se existiu mesmo, ou se foi sonhado.
Não se lembra de nada. Não sabe o que sonha. Não tem desejos. Não se aventura em mais nada. Nada é novidade. Tudo agora é pra ela uma realidade suja e normal, escura, onde ela acha que enxerga tudo, mas nada vê. Tudo que vê é ilusão. E não são boas ainda, não são ilusões coloridas ainda, como as que tinha quando era criança.
A rua com que sonhava era azul. Hoje é cinza. O céu tinha arco-íris. Hoje não se vê, é encoberto por neblina preta. Nos rostos, havia sorrisos. Hoje há rancor e medo.
Ela por ali vai viver. Seu corpo se acostumou. Sua alma não. Quando seus olhos fecharem e permitirem que a sua alma floresça, o chão vai azular, e abrir luzes coloridas para o céu, para o arco-íris, para as flores que ela nunca mais viu.
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
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